Todo falante da língua, possui um conhecimento implícito da língua portuguesa que não é decorrente de instrução escolar, mas que foi assimilado de forma espontânea. Todavia não é capaz de torná-la explícita. Essa é a GRAMÁTICA INTERNALIZADA.
A concepção de linguagem e gramática, que agora consideramos, tem bases fortemente humanísticas: todo homem, sejam quais forem suas condições, nasce dotado de uma faculdade da linguagem, como parte de sua própria capacidade e dignidade humanas. Mesmo que existem muitos pontos obscuros quanta à natureza e extensão dessa faculdade, isso significa que, sem distinção, todas as crianças desenvolve uma gramática interna.
A linguagem, seja pela convergência de fatores de natureza antropológica, seja por força de uma dotação genética específica, é um patrimônio característico de toda comunidade. Uma propriedade do homem, independentemente de fatores sociais, de raça, de cultura, de situação econômica, de circunstâncias de nascimento ou de diferentes modos de inserção em sua comunidade. Qualquer criança, tendo acesso à linguagem, domina rapidamente, logo nos primeiros anos de vida, todo um sistema de princípios e regras que lhe permitem ativar ou construir inteiramente a gramática de sua língua.
A linguagem não é algo que se aprende ou algo que se faz: é algo que desabrocha e se desenvolve como uma flor (na bonita metáfora de Noam Chomsky), que amadurece no curso dos anos, desde que se assegurem à criança mínimas condições de acesso às manifestações linguísticas de seus pais e de sua comunidade linguística.
Tanto é assim que qualquer criança logo compreende e produz inúmeras expressões que jamais ouviu, operando ela mesma sobre essas orações com os recursos próprios do sistema "computacional" de produção e interpretação de seu celebro (uma metáfora chomskyana).
Mesmo sem tomar partido nas questões mais complexas relativas a esses mecanismo e processos internos, o que se pode dizer, em resumo, é que todo falante, independente da modalidade da linguagem de que se sirva, possui uma gramática interna (de natureza biológica e psicológica) ou, pelo menos, a interioriza já em tenra idade, a partir de suas próprias experiências linguísticas. Como consequência disso: toda criança já chega á escola dominando com perfeição uma complicadíssima gramática (que os linguistas tentam descrever sem sucesso cabal há mais de quarenta anos).
Gramática corresponde ao saber linguístico que o falante de uma língua desenvolve dentro de certos limites impostos pela sua própria dotação genética humana, em condições apropriadas de natureza social e antropológica.
"Saber gramática" não depende, pois, em princípio, da escolarização, ou de quaisquer processos de aprendizado sistemático, mas da ativação e amadurecimento progressivo (ou da construção progressiva), na própria atividade linguística, de hipóteses sobre o que seja a linguagem e de seus princípios e regras.
Se quiserem, a gramatica é uma práxis ou se desenvolve na práxis por um processo de balizamento das possibilidades e virtualidades da manifestação verbal, feitas ou aceitas pela comunidade linguística da qual o falante participa.